Sentados na Cadeira de Van Gogh, os pais foram à pesca no Porto. Trocaram linhas, deitaram os seus anzóis e pescaram partilhas.
A partilha…
“A revelação da orientação sexual de um filho é como uma lente, que nos diminui a miopia do mundo e nos deixa ver com mais clareza os outros, os seus diferentes contornos e tonalidades, que dantes nos pareciam tão iguais. É a partilha que nos ensina a crescer, e sermos objectos da partilha de algo íntimo, é emocionante e muito sentido. É tão bom podermos partilhar com alguém que nos entenda!
Quando se partilha uma orientação sexual é difícil, temos consciência de que os nossos filhos não são os nossos. Projectamos neles as nossas expectativas. Mas temos de respeitar os outros pelo que são, e isso dá-nos outra liberdade de espírito.
Confrontados com a rejeição da homossexualidade pela igreja, a aceitação das pessoas que se desviam do que os outros consideram normal é uma “muleta”, que nos ampara. A intolerância a nível religioso, é a que mais impressiona, mais que a laboral ou da sociedade. Pois se todos somos uma parte desse Deus, nenhum de nós pode ficar de fora, temos de caber todos nesse universo a que chamamos de Deus. Choca-nos o apontar do dedo de uma forma aleatória quando a obrigação primeira é a de abraçar todos aqueles que precisam de uma atenção redobrada.
Mas há-de vir o dia em que vamos ter que dar a cara, sair daqui com uma responsabilidade acrescida, sair do armário e ver a sociedade com outros olhos. Não nos podemos impor mas toda a gente evolui, transforma-se, progride.
No dia em que vi a minha filha chorar por outra mulher deixei de acreditar que era uma fase. As coisas importantes tratam-se com calma e pedimos “não te exponhas dessa forma, vamos tratar com calma…”.
Se se tem um filho homossexual isso pode não espelhar-se, não transparecer para a sociedade, mas quando o filho é transexual é necessária coragem, muita coragem, porque o esconder não é viável, o omitir não é exequível. Não há que esconder nem que ficar em casa. É necessário ter muito estofo para poder suportar, mas eu irei à luta! Sei lá quem é que está errado!
Não é uma escolha!
Ninguém escolhe o caminho mais difícil!”
Os pais timoneiros do barco da partilha
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