TRADUÇÃO AMPLOS
A partir do site da CNN.
Ver mais aqui.
Beijing, China (CNN) – Quando o seu filho adolescente Wu Youjian lhe disse, numa noite de primavera de 1999, que era gay, Wu fez algo muito raro num país como a China.
“Eu disse-lhe que não havia nada de errado em gostar de rapazes que isso não tinha importância”, disse a editora de uma revista, de 63 anos, aposentada.
Cinco anos depois, quando o seu filho falou da sua sexualidade na televisão local, no distrito de Guangzhou, Wu tomou outra decisão inovadora. Tornou-se na primeira chinesa a ir à televisão em apoio do seu filho gay.
Zheng Yuantao, 30, sabe a sorte que tem em ter aquela mãe.
“Muitos dos meus amigos gays têm medo de ir a casa nas férias, pois os seus pais poderão fazer perguntas sobre namoradas e pressioná-los a casar”, disse ele.
“Eu cresci numa família muito aberta”, acrescentou. “Eu não tive que lutar para afirmar a minha orientação sexual.”
Wu agora dedica o seu tempo e energia na luta pela aceitação dos gays pela família e pela sociedade. Na comunidade gay da China, ela é carinhosamente chamada de “Mama Wu”.
Wu aprendeu a usar um computador, há três anos, e agora escreve num blog que tem mais de 2,2 milhões de visitantes. Lançou uma linha PFLAG e fundou o primeiro grupo – Pais, Familiares e Amigos de Gays e Lésbicas – do país na sua cidade natal.
“Eu apenas segui o meu instinto e o meu amor pelo meu filho”, disse Wu.
Para outros pais chineses na sua situação, no entanto, o instinto normalmente significa um profundo sentimento de vergonha. Muitos se recusam a encarar a realidade e alguns cortam mesmo os laços com seus filhos gays. Alguns insistem em tratamentos psiquiátricos, enquanto outros podem ameaçar suicidar-se se os seus filhos não mudam.
‘Mama Wu’ inspira outros pais de jovens gay chineses.
“Na China, nós consideramos o apoio familiar como sendo de extrema importância, mas não valorizamos a felicidade dos indivíduos”, disse Li Yinhe, um sociólogo da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
O suicídio é elevado entre os homossexuais chineses. Segundo Li, há pesquisas que referem que 30% dos jovens gays tentam pôr fim às suas vidas. Esta tendência reflete o que acontece nos Estados Unidos, onde uma onda de suicídios de adolescentes gays nos últimos meses, abalou a nação.
A maioria dos homens gays na China ainda sucumbem à pressão social e casam-se com mulheres.
Li conduziu as primeiras pesquisas, sobre gays, na China. Publicou os resultados num livro editado em 1992.
Enquanto a sociedade em geral se tem aberto aos temas da homossexualidade, diz Li, a pressão da família sobre os gays continua forte por causa das ideias confucionistas, profundamente enraizadas, e da política do filho único, imposta pelo governo chinês.
“Ninguém gosta de ouvir um estranho, mas ela não é um estranho – ela é uma mãe cujo único filho é gay,” diz Li . “Outros se perguntarão se ela pode lidar com isso tão bem, por que não eu?”
Nem sempre Wu recebe elogios, também já a acusaram de “conduzir a nossa juventude para um lugar mais sujo do que um bordel” e “apressar a morte moral de nossa sociedade já doente.”
“Não se trata de quantas pessoas ela pode mudar”, disse Zheng. “O importante é que ela está já a ajudar pessoas reais todos os dias.”
A homossexualidade não é ilegal na China, e em 2001 também foi retirada da lista de perturbações mentais. Mas permanece em grande parte um tema tabu nos meios estatais de comunicação.
Wu não pára com a difusão da mensagem pela aceitação, dando palestras e seminários em todo o país.
Numa reunião recente da PFLAG em Pequim, Wu, ostentando um cachecol arco-íris e falando num tom calmo, mas firme, dirigiu-se a 100 pessoas que enchiam uma sala de conferências de um hotel. O filho e o seu namorado estavam à entrada a receber os participantes.
A sua voz falhou, no entanto, quando ela mencionou que a intransigência dos pais levou um jovem gay casado, que tinha procurado a sua ajuda, a pôr fim à vida.
“Temos de dar-lhes esperança”, disse Wu, citando o icónico político gay americano Harvey Milk.
Wu diz que constantemente lembra outros pais sobre uma questão básica: “Não importa se os nossos filhos são gays ou não – assim como não importa se são canhotos ou destros”, diz ela. “Eles são sempre os nossos filhos.”
Após ter recebido milhares de posts em blogs e telefonemas, Wu compilou as suas histórias num novo livro – intitulado “O amor é a côr mais bonita do arco-íris” – e promete continuar o seu esforço.
“Tenho apenas um filho, mas muitos chamam-me Mama”, disse ela.
Deixe uma Resposta