Hoje é dia dos namorados, mas hoje não vou escrever ao meu namorado, vou antes escrever aos pais do meu namorado, que me odeiam!
Como eles me odeiam, detestam, não lhes escrevo directamente, faço-o por interposta pessoa.
Tenho 38 anos, quase quarenta, sou solteiro, não tenho filhos e namoro há cerca de cinco anos com o Pedro. Eu e o Pedro vivemos em cidades diferentes. O Pedro tem 40 anos, é solteiro, não tem filhos, é bom filho, trabalhador e o principal pilar de suporte e sustento da família. Eu não sou o primeiro namorado do Pedro, mas sou o primeiro que se recusou a viver a relação dentro do armário. Sou o primeiro namorado de que a família soube e, por isso, encarno em mim todos os males do mundo e fui eu que, obviamente, tornei o filho gay.
Seria cómico se o assunto não fosse sério. Seria trivial se eu não soubesse de quantos e quantos pais não sentem, sentiram, um pouco isto quando souberam que um dos seus filhos, das suas filhas, andava com alguém do mesmo sexo. No desespero de não compreenderem no que falharam e de atirarem as culpas para alguém, quantas vezes não culpam o namorado do filho. Quantas vezes injustamente pensam que a namorada é que desviou a nossa filha sem sabermos que, se calhar, foi ao contrário!
Tenho 38 anos, na minha cidade conhecem o Pedro como meu namorado, no meu emprego conhecem o Pedro como meu companheiro, ainda assim tenho dificuldade em estar na praia com ele de mãos dadas, de o beijar prolongadamente, de viver plenamente a minha vida afectiva com ele e, sinceramente, acho que nunca o vou fazer pois a minha educação culturalmente heterossexista nunca me deixará de moer o condicionamento de quem viveu a maioria da sua vida a tentar encaixar-se como heterossexual.
Na cidade do Pedro eu não existo! Ninguém sabe de mim, os colegas dele nunca ouviram falar de mim, o círculo mais próximo nem imagina que o Pedro namora. Os pais do Pedro detestam-me.
Valerá a pena? Não o odiarem-me, mas o sacrificarem a vida do filho, martirizarem-se mutuamente, tentarem, ainda, torna-lo “normal”, não viverem confortavelmente uns com os outros, só porque não o aceitam. O meu namoro é uma novela infeliz nesse aspecto.
Mas pais, pais do Pedro, pais da Maria, pais do José, pais dos filhos gays que ainda sofrem por o filho ser gay e a filha ser lésbica, vale a pena? Vale mesmo a pena? Vale a pena hostilizarem os vossos filhos, vale a pena o medo de acharem que falharam? Só falharam se não forem verdadeiros e felizes. Felizes com vocês, felizes com eles, felizes com elas. Deixem para trás o que pensa a vizinha, o que diz o padre, o que comenta a tia. Sejam felizes com os vossos filhos, não percam tempo em questões que tem mais de inúteis do que de relevante.
O medo que temos pelos nossos filhos é lícito, mas não deixem que ele vos tolde a vida.
Não é o namorado do filho que faz o filho gay. Não é por a vossa filha ser lésbica que ela vai sofrer na vida, mas é o vosso amor por eles que os vai tornar pessoas melhores.
E a vocês, que também são pais, bom dia dos namorados!
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