03/06/2016
O meu Arco-íris
Tenho 43 anos, sou mãe de dois filhos e o mais novo é uma criança de expressão de
género não conforme a norma.
Parecendo um conceito de simples compreensão – para mim e para o meu marido a
expressão da individualidade é um direito inalienável –, o meu filho é feito de cores
que o sujeitam à discriminação.
Como explicar as unhas cor-de- rosa à bisavó, aos Tios… Compramos a boneca, o
vestido da Princesa Rapunzel? Deixamos que ele leve o brinquedo favorito para a
escola? Estaremos a protegê-lo? A expô-lo?
Além das dúvidas, fomos também acumulando tristes episódios de preconceito,
protagonizados por adultos e alguns deles, diria mesmo os mais graves, por agentes
educativos. O meu filho foi forçado a amadurecer prematuramente e penso que até
lhe foi roubada alguma ingenuidade e espontaneidade.
Perdemos o convívio regular com alguns amigos que, nunca dizendo abertamente,
sentiam óbvio desconforto e reprovação quando confrontados com episódios
quotidianos de brincadeira onde entrava, obrigatoriamente, a maquilhagem, os
colares da mãe, os sapatos de salto da avó, o trocar de roupa com a prima, etc.
Vivemos no terror de, a qualquer momento, poder assistir à rejeição do nosso filho por
membros da família mais conservadores porém não menos importantes para nós.
Isso não aconteceu.
Importa referir que o papel do Pai foi fundamental para ultrapassar esta barreira. A
naturalidade com que lida com as nossas rotinas infantis (o pai é que teve sempre
paciência para tomar chá com as Barbies) tornou-se contagiante para os restantes
elementos da família alargada.
A AMPLOSIG (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e
Identidade de Género) deu-nos o apoio que nos faltava. Encontrámos mensagens
como:
“Somos um grupo de pais que se propõe lutar por uma sociedade mais justa, opondo-
nos a todas as formas de discriminação.”
“(…)sabemos que os pais estão muito sozinhos, nem sempre sabem como agir da
melhor forma. Andam eles próprios a aprender a ser pais,(…)”.
Não precisamos de rótulos para o nosso filho, não nos preocupa a sua orientação
sexual, queremos sim que ele seja respeitado e apreciado na sua singularidade, tal
como foi o primogénito, aliás, tal como todas as crianças deveriam ser.
Para finalizar gostaria de partilhar o desejo manifesto pelo meu filho, em outubro de
2014, na altura com 9 anos de idade:
“Desejo que nenhuma criança tenha de esconder o que é de verdade.”
Uma criança linda que se vai tornar num adulto espectacular.