Pais escreveram à ministra
Escolas: Isabel Alçada admite desbloquear luta contra homofobia
Por São José Almeida
Serviços do ministério barraram campanha “ideológica” da Rede Ex-Aequo. Ministra diz que esta não é uma posição oficial
O Ministério da Educação (ME) reafirmou ontem “a sua disponibilidade para dialogar e apreciar as propostas” de uma campanha contra a homofobia nas escolas, de acordo com uma declaração prestada ao PÚBLICO pelo gabinete da ministra, Isabel Alçada. A ministra insiste assim em que não são oficiais as posições assumidas por técnicos da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, que terão recusado colaborar com o Projecto Inclusão da Rede Ex-Aequo, associação de jovens em defesa dos direitos dos homossexuais.
Em causa está o facto de dois deputados, José Soeiro (Bloco de Esquerda) e Rita Rato (PCP), terem questionado a ministra da Educação sobre o facto de a Rede Ex-Aequo ter denunciado, na Assembleia da República, que técnicos do ME tinham recusado apoiar o Projecto Inclusão e distribuir os seus materiais nas escolas, sob o argumento de que o ministério tem de ser “neutro em assuntos que possam ser considerados ideológicos”.
O projecto, apoiado e financiado por outra entidade estatal – a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género -, consiste em cartazes e folhetos informativos sobre a homossexualidade, bem como num estudo sobre homofobia em meio escolar, a fazer por uma equipa do ISCTE dirigida pela professora Carla Moleiro.
Pais lançam apelo
“Até ao presente, a Rede Ex-Aequo não submeteu para apreciação e autorização do Ministério da Educação quaisquer documentos com o fim da sua divulgação em escolas”, insiste a declaração prestada pelo gabinete da ministra. Mas acrescenta que Isabel Alçada está empenhada em que a situação seja ultrapassada.
“O Ministério da Educação reafirma o seu empenho na promoção da educação para os direitos humanos, incentivando, nomeadamente, o respeito pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais e a eliminação de comportamentos baseados na discriminação sexual ou na violência, em função do sexo ou da orientação sexual”, afirma a nota, apontando que essa é a posição que está de acordo com o “estabelecido na Lei n.º 60/2009, de 6 de Agosto, que define o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar”.
Quem também aguarda que a questão seja ultrapassada rapidamente é a Amplos – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. Numa carta aberta à ministra, a que o PÚBLICO teve acesso, a direcção da Amplos lembra que, “na sociedade actual, não é fácil ser homossexual ou transexual, nomeadamente em ambientes escolares”, e assume que nas escolas “as agressões acontecem” e estas “não são só dirigidas aos homossexuais”, já que “a homossexualidade é utilizada como um insulto, um insulto considerado por muitos jovens como “o pior de todos os insultos””. Ora, acrescenta a Amplos, “esta situação provoca um sofrimento muitas vezes silencioso, porque os que de facto o são temem revelá-lo aos colegas e/ou têm dificuldade em pedir apoio à família”.
Frisando que em países como Espanha estas associações de pais são apoiadas pelo Governo, e lembrando o artigo 13.º da Constituição sobre igualdade de tratamento e não discriminação e a revisão feita em 2009 da Lei de Educação Sexual, a Amplos alerta: “Não queremos apressar processos, senhora ministra, mas consideramos imprescindível e inevitável que se avance na direcção certa.” E apela: “Pedimos-lhe, pois, senhora ministra, que acolha institucionalmente projectos contra a homofobia em meio escolar.”
Também a União de Mulheres Alternativa e Resposta apela a que a campanha do Projecto Inclusão avance e defende que “a homofobia e a transfobia, a par do machismo e do sexismo, são formas de discriminação e opressão que uma sociedade democrática não pode tolerar”. E frisa que “são fundamentais as campanhas de esclarecimento e combate a estas formas de opressão que se entrelaçam na estrutura social desigual e hierárquica que não permite o florir das potencialidades e do bem-estar de todas as pessoas”.
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Na Revista Visão de 10.12.09
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Saiu na Revista Visão on line: “O meu filho é gay. O que fazer e o que não fazer?” . Conselhos do psicólogo e psicoterapeuta Pedro Frazão. A ler aqui.
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10.10.2009 – 18h26 Paula Torres de Carvalho
Apoiar jovens homossexuais que tenham dificuldade na sua relação com os pais, é um dos principais objectivos de uma nova associação que foi apresentada, hoje, na Livraria “Ler Devagar”, em Lisboa. Chama-se AMPLOS (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual) e foi criada por um grupo de pais que se propõem combater todas as “formas de discriminação relacionadas com a orientação sexual”.
No seu site, na internet (amplos.bo@gmail.com), explicam que se dispõem a lutar para que “os homossexuais sejam aceites, possam assumir abertamente a sua identidade, exprimir os seus afectos, casar, ter igualdade de tratamento jurídico; em suma serem pessoas de pleno direito, serem cidadãos de plena cidadania”.
E referem o momento intenso e, na “maioria das vezes sofrido”, da aceitação, pelos pais, da orientação homossexual dos filhos. “Sabemos que muitos pais reagem de forma brutal a essa situação pelas expectativas que criaram em relação aos filhos, pelos preconceitos que circulam, e abundam, na sociedade (…)” lê-se, no texto de apresentação.”Também sabemos que os pais estão muito sozinhos”, acrescentam, notando como “andam eles próprios a aprender a ser pais, a como sair do seu “armário”. Por isso, explicam, querem “constituir um grupo de acção cívica” ao lado dos filhos e de “todas as organizações que defendem os seus direitos”.
Margarida Lima de Faria
Ajudar as famílias a sair do armário
por FERNANDA CÂNCIO (DN) 8 de Agosto de 2009
“Estamos do lado do preconceito contra os nossos filhos ou do lado dos nossos filhos contra o preconceito?” A pergunta levou à criação da AMPLOS, Associação de Mães e Pais pela Liberdade da Orientação Sexual. Pelos filhos, pelos pais, “pelos valores mais fortes da família” – por amor
“Não reagimos da forma mais correcta possível. De certeza que fiz coisas erradas ou menos certas.” Margarida Lima Faria, 51 anos, socióloga, casada há trinta, mãe de duas filhas, descobriu há cinco anos que uma delas, a mais nova, é homossexual. Descobriu é uma forma de dizer: foi informada pela própria. “Não foi uma conversa nada fácil, sobretudo para ela. Sinto orgulho por ela nos ter dito, por isso corresponder a uma relação de confiança e à noção que teria da nossa capacidade de a aceitar como ela é. E por corresponder a uma ética da verdade, algo que tentámos sempre construir na nossa família.”
A hipótese, confessa, “nunca se tinha colocado”. E a reacção foi “mais de confusão que de desilusão”. Sorri. “Uma coisa que queria dizer aos outros pais é que no dia seguinte ao da revelação está tudo igual, o mundo não acabou – até está melhor, porque se tem um filho mais feliz.” Mas nem toda a gente, é sabido, vê as coisas assim. “Tenho uma amiga médica que me contou que uns amigos lhe ligaram para falar do grande drama que acontecera à filha. E ele achou que era algo tão grave que perguntou ‘Não me digam,é um cancro?’E eles responderam: ‘Pior que isso’ .”
No sossego da esplanada do Centro Cultural de Belém, local perto do seu emprego onde Margarida marcou o encontro, a brutalidade irredimível da frase suspende os gestos. “Aquilo que as pessoas são depende muito das relações primárias que se constroem no seio da família.
Se os pais não aceitam os filhos é um golpe terrível na sua auto-estima. E as pessoas que não gostam de si próprias não são bons cidadãos.”
A fobia que leva pais a renegar filhos por causa da sua orientação sexual também se vira contra os pais que não os renegam. “É absurdo. Temos dificuldade de falar dos filhos homossexuais, pedem-nos que façamos de conta que não existem. Durante muito tempo quando me perguntavam pelas minhas filhas elidi a vida relacional de uma delas. Mas a partir de uma certa altura senti que devia começar a lidar com a coisa de forma completamente natural, porque de outra forma estava a discriminar uma filha em relação à outra. E as reacções começaram a ser muito estranhas. Quando dizia ‘A minha filha tem uma namorada’, havia quem me dissesse ‘Estás a dizer isso para me provocar’ e quem me falasse de doenças, a ponto de eu ficar numa tristeza…”
Foi em grande parte devido a essas reacções que começou a formar-se na cabeça de Margarida a ideia de uma associação. De fazer qualquer coisa mais estruturada, mais organizada, para mudar as coisas. De partilhar o que sentiu e decidiu e pensou durante os últimos cinco anos , desde que sucedeu aquilo que passou a ver “como uma boa oportunidade que a vida me deu”.
Para Margarida, a AMPLOS não deve ser “só uma associação de pais de homossexuais” ,: deve ter lugar para toda a gente que ache esta luta importante. Também não quer que se diga “Ai, agora os pais têm de falar pelos filhos, defendê-los”. “Não é nada disso, nem eu gostava que a minha filha estivesse nessa situação. Os nossos filhos são jovens adultos, sabem pensar pela sua cabeça e defender-se. A última vez que falei com uma professora da minha filha para a defender tinha ela dez anos. Não se trata disso… Mas estive com jovens que morriam de medo de contar aos pais. Fui a uma reunião da ILGA e quando lemos a primeira frase do manifesto, ‘Somos um grupo de mães e pais’, houve um jovem que disse ‘Isto não está a acontecer’.” Pára, como quem sustém qualquer coisa. “Havia pessoas com as lágrimas a correr pela cara abaixo.” Lágrimas de felicidade, desta vez – ou de esperança. “Houve alguns que nos contaram que um dia a mãe ou o pai lhes perguntou ‘És homossexual?’, e eles responderam ‘Não’. E a conversa acabou aí. As pessoas contentam-se com o que querem ouvir…” A esses pais, a todos os pais que acham que os filhos os desiludem com coisas como estas, Margarida gostaria de dizer isto: “Não é um problema, um grande problema. É uma contrariedade. A vida em sociedade faz-se de expectativas, das expectativas que acalentamos em relação aos outros. E se uma expectativa se gorar, há a capacidade de adaptação, em que é muito importante o amor e a inteligência. É tudo uma questão de amor, não é?”
EM NOME DA NÃO COBARDIA
A AMPLOS, nome de lugar grande, coisa que abarca, de abraço, nasceu sobretudo disso – “dos valores mais fortes da família”. “Desde que pusemos a circular o nosso manifesto que recebemos imensos mails e contactos de encorajamento. As pessoas dizem ‘Até que enfim’, ‘Força’, ‘Que bom’… Fiquei muito surpreendida com tantas reacções positivas. Um dos que mais me comoveu foi o da mãe de duas filhas de três e cinco anos que disse querer participar para que elas pudessem crescer num mundo melhor.”
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“Psicólogos não devem sugerir aos clientes gay
que podem mudar de orientação sexual”
JORNAL PÚBLICO 07.08.2009 – Andreia Sanches
Deve um técnico de saúde mental dizer a um gay que é possível mudar de orientação sexual? A Associação Americana de Psicologia (APA) aprovou ontem em Toronto, no Canadá, uma resolução onde defende que não. O tema tem suscitado polémica em Portugal. Mas a Ordem dos Médicos ainda não emitiu recomendações.
O bastonário Pedro Nunes já disse que “não constitui uma violação ética” um médico aceder ao desejo de um cliente que o procure para alterar a sua orientação sexual. Mas, depois de em Maio alguns psiquiatras e psicólogos portugueses terem vindo a público defender que terapias que têm esse objectivo devem nalguns casos ser usadas, Pedro Nunes anunciou que ia “solicitar aos órgãos técnicos e éticos” da Ordem um “estudo da situação”. E respondia assim à chuva de protestos de várias associações e médicos que tais declarações suscitaram.
Até agora, segundo informa a Ordem, não há novidades. Aquela que é a maior associação de psicólogos do mundo, com mais de 150 mil membros, é que parece não ter dúvidas.
Passados em revista mais de 80 artigos científicos, feitos entre 1960 e 2007, aprovou ontem as suas novas orientações. O documento é subscrito pelo conselho executivo da organização e recebeu 124 votos a favor e quatro contra. No mesmo dia, foi divulgado o relatório feito por um grupo de especialistas no qual se baseou a tomada de posição.
O relatório diz que se está a assistir ao “ressurgimento” da utilização de abordagens médicas, religiosas e psicanalíticas destinadas a mudar a orientação sexual dos indivíduos. Mas que continuam a faltar provas de que tais abordagens funcionem – algo que, de resto, tem sido defendido pela Associação Americana de Psiquiatria e pela associação de Psicologia que ontem aprofundou o tema.
Diz a APA que os estudos válidos que existem indicam que é “pouco provável que os indivíduos possam reduzir a sua atracção sexual por pessoas do mesmo sexo”. Mais: estudos feitos com rigor “levantam preocupações sobre a segurança” deste tipo de intervenção.
Perante pedidos de clientes que lhes peçam ajuda, os psicólogos devem apostar noutras abordagens que não visem a mudança de orientação sexual, mas que “se baseiem na aceitação, apoio e exploração da identidade sexual”. Até porque, lê-se na resolução: as atracções e relações românticas entre pessoas do mesmo sexo, bem como os comportamentos homossexuais, “são normais e variantes positivas da sexualidade humana”. Também no que diz respeito às crianças e adolescentes não há investigação que demonstre que as abordagens de mudança de orientação sexual “tenham impacto” no percurso que farão na idade adulta. Tal como não há evidência que “ensinar ou reforçar” comportamentos estereotipados altere essa orientação.
A APA mostra-se, de resto, preocupada com os “tratamentos involuntários” a que possam ser sujeitos os jovens.
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