Pai entrega filho em esquadra por ser gay
Jornal de Notícias
01h32m
Um pai entregou, na madrugada de quinta-feira, o filho na esquadra da PSP Valadares, em Vila Nova de Gaia, por ter descoberto a orientação
sexual do menor, ao início da noite.
Segundo fonte policial, o progenitor perseguiu o menor, com 15 anos, logo que este lhe pediu autorização para uma saída nocturna com amigos. O pai foi então encontrar o adolescente na discoteca Pride, no Porto, pelas 1.30 horas de quinta-feira.
Reagindo a quente, alegadamente, o homem accionou primeiro várias autoridades, acusando a gestão do espaço – maioritariamente frequentado por
jovens homossexuais – de ter permitido a entrada do menor.
Tendo em conta que a PSP pouco mais terá feito que registar a falha de identificação na entrada do espaço, apenas permitido a maiores de 18 anos, pai e filho regressaram então a casa, a Valadares.
Pelas 4.30 horas, o progenitor, engenheiro de profissão, apresentou-se na PSP daquela localidade com o adolescente lavado em lágrimas, para o entregar aos polícias que estavam de serviço.
O JN sabe que o pai se recusou a ficar com o filho em casa, tendo sido accionado o serviço de emergência social para encontrar uma resposta de albergue para o jovem.
A AMPLOS regista a partir desta notícia:
– a necessária e urgente consciencialização da população e empenhamento real das instituições do Estado na educação e na luta contra o preconceito homofóbico que é causador da infelicidade de tantos jovens e adultos (de ambos os sexos) e das respectivas famílias;
– a necessária e urgente formação de agentes policiais, assim como de outros actores sociais que poderão vir a ser chamados a actuar em situações análogas;
– a necessária e urgente divulgação de práticas institucionais adequadas e a consequente averiguação de situações em que as instituições não ajam em conformidade ;
– a necessidade de uma construção efectiva de redes de serviços públicos técnicos e especializados em apoios familiares com formação para lidar com as questões LGBT;
– o reforço e reconhecimento do papel desempenhado pelas associações da sociedade civil pela sua proximidade à população, conhecimento e experiência, nas quais se enquadra a AMPLOS;
– a necessidade de um enquadramento positivo das famílias na comunidade, evitando actuações desadequadas de poder paternal, atentando contra os direitos mais básicos de um filho, colocando-o numa preocupante situação de risco;
– a preocupação quanto à eventualidade de uma interpretação de episódios deste tipo, por parte dos jovens, levar ao acentuar do seu medo de revelação (coming out) da sua orientação sexual aos pais, levando-os a adiar a construção de relações sinceras e libertas do preconceito e da mentira.
A Direcção da AMPLOS reunida em 09.09.11
Como ser humano é-me impossível imaginar o sofrimento deste jovem perante os acontecimentos descritos nesta notícia. É-me díficil entender tal rejeição de um pai pelo seu filho. Este comportamento é contrário ao que todos deveriamos desejar: compreensão, afecto, respeito pelo outro e muitooooo amor. Quero deixar uma mensagem de esperança a este jovem – de força e muita coragem, olhar em frente e acreditar que vai ter sempre alguém que o apoiará. Mais do que nunca se percebe a importância de uma associação como a AMPLOS, ao fazer como agora, este registo.